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E SE NÃO HOUVESSEM POLÍTICOS...

Entrevista de Patrícia Brito para a TV record
Entrevista de Patrícia Brito para a TV record

E se não houvessem políticos, talvez tivéssemos que repensar radicalmente a maneira como organizamos a vida em sociedade. Desde a Grécia Antiga, a política surgiu como uma necessidade - a representação de muitos por poucos, a administração da cidade por aqueles que, teoricamente, possuem preparo, interesse público e espírito coletivo. Mas, com o tempo, essa representação foi se distorcendo, e os representantes, muitas vezes, passaram a representar a si mesmos e aos seus grupos de poder.


E se, ao invés de entregar tamanha autonomia a pessoas que mal conhecemos, fôssemos mais criteriosos com a própria ideia de representação? O voto, obrigatório no Brasil, transforma-se em um ato mecânico e, não raro, despolitizado, ao mesmo tempo em que outorga aos eleitos uma licença quase ilimitada para decidir por milhões. Recebemos pouco, ou quase nada, em troca. Somos chamados de eleitores apenas de quatro em quatro anos e, no intervalo, somos apenas números ou estatísticas.


E se o poder político não fosse confundido com uma espécie de “licença para roubar”? Parafraseando James Bond em sua famosa "licença para matar", muitos enxergam o cargo público como salvo-conduto para enriquecer, proteger seus pares e manter privilégios históricos. Não são todos, é verdade, mas são suficientes para contaminar a confiança no sistema e transformar a política em um espaço desacreditado, onde o interesse coletivo raramente é prioridade.


E se, antes de se candidatarem, os políticos fossem obrigados a realizar um curso sério de gestão pública e administração? Afinal, governar é uma tarefa complexa, que exige preparo, ética, conhecimento técnico e sensibilidade social. Fica fácil demais atravessar bairros e vielas prometendo mundos e fundos, alimentando ilusões, apenas para, uma vez eleito, se perder no labirinto de vaidades, interesses privados e incompetência.


E se os políticos fossem obrigados a escutar diretamente as pessoas, sem intermediações? Recordo-me de uma experiência que vivi no Canadá. No bairro onde eu morava, o político eleito destinava horas mensais para montar uma barraca numa esquina e ouvir, presencialmente, quem passava. Sem assessores, sem cargos de confiança, sem barreiras. Apenas ele, a calçada e a escuta ativa. Quanta diferença faria se nossos políticos, ao invés de se esconderem atrás de gabinetes fechados e discursos genéricos, descessem à rua para ouvir, de fato, as necessidades de quem dizem representar.


E se a educação política começasse, de verdade, nas escolas? Não com aquela velha e falsa premissa de que “os jovens são o futuro do amanhã”, como se o futuro fosse sempre um horizonte inalcançável, ou como se bastasse enviá-los para estudar na Suíça. Não. Ensinar a pensar é também ensinar a decidir, e isso fortaleceria o país desde já, dando aos jovens instrumentos reais para participar da vida pública e transformar o presente. Caso contrário, seguimos formando gerações como a minha - eu, que já fui o futuro do Brasil, estou agora à beira de um futuro previdenciário, o mesmo onde tantos aposentados hoje amargam as consequências de uma política que, há décadas, ultrapassa sua moral em benefício próprio.


E se começássemos a pensar que a política não é um lugar de privilégio, mas de serviço? Que o poder não deveria ser um prêmio, mas uma responsabilidade? Talvez, assim, começássemos a transformar não apenas a prática política, mas a própria ideia de sociedade que desejamos construir.


E se...


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