𝐄𝐧𝐭𝐫𝐞 𝐨 𝐪𝐮𝐞 𝐬𝐞 𝐯𝐞̂ 𝐞 𝐨 𝐪𝐮𝐞 𝐚𝐜𝐨𝐧𝐭𝐞𝐜𝐞: 𝐨 𝐠𝐞𝐬𝐭𝐨 𝐜𝐮𝐫𝐚𝐭𝐨𝐫𝐢𝐚𝐥 𝐜𝐨𝐦𝐨 𝐝𝐞𝐬𝐜𝐨𝐥𝐨𝐧𝐢𝐳𝐚𝐜̧𝐚̃𝐨 𝐝𝐨 𝐨𝐥𝐡𝐚𝐫
- Black Brazil Art

- 28 de nov.
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A decisão curatorial da 36ª Bienal de São Paulo de suprimir legendas e nomes de artistas visivelmente nas salas expositivas provocou reações intensas — de entusiasmo e de desconforto. Acusada por alguns de desrespeitar os artistas ou de sonegar informações ao público, tal escolha, no entanto, se inscreve em um movimento mais profundo: o de descolonizar os modos de ver e de pensar a arte.
Ao recusar a legenda como mediadora obrigatória da experiência estética, a Bienal desestabiliza a lógica eurocêntrica da autoria e do saber institucionalizado. O gesto retira o espectador da posição passiva de quem “lê” o que lhe é dito e o convoca a construir seu próprio campo de sentidos. O espaço expositivo deixa de ser um arquivo de informações para se tornar um território de encontros — onde ver é também pensar e sentir, sem o amparo das palavras que enquadram a obra.
Essa recusa ao rótulo ecoa a experiência da 𝟑ª 𝐁𝐢𝐞𝐧𝐚𝐥 𝐁𝐥𝐚𝐜𝐤, realizada em múltiplos espaços do Rio de Janeiro, quando os textos e legendas também foram suprimidos. Naquele contexto, a ausência não significava um vazio, mas uma abertura: a criação de um tempo e de um campo sensível onde o público pudesse habitar o espaço da arte sem a tutela da descrição. Foi um gesto que devolveu às pessoas o direito de pensar por si mesmas, de se relacionar com a obra de modo direto, atravessado por afetos, memórias e presenças.
A frase de Rirkrit Tiravanija, “não é o que você vê, mas o que acontece entre as pessoas”, torna-se chave para compreender o alcance desse gesto. A arte, sob essa perspectiva, não reside apenas no objeto exposto, mas na relação que ele provoca — nas conversas, nos olhares cruzados, nos silêncios compartilhados, na experiência comum que emerge entre corpos. A obra, sem legenda, se torna uma possibilidade viva de encontro, não um conceito fechado.
Suprimir legendas, portanto, é abrir o campo da arte à incerteza e à multiplicidade; é aceitar que a compreensão pode ser fragmentária, que a leitura pode nascer do sensível, do erro, da imaginação. É um modo de restituir ao público sua capacidade crítica e intuitiva, e ao artista, a potência de ser lido fora das estruturas de legitimação que condicionam a percepção.
Ao propor essa suspensão do discurso explicativo, a 36 Bienal de São Paulo se aproxima de um horizonte ético e estético decolonial: o de romper com a autoridade do texto sobre a imagem, da instituição sobre a experiência, do saber sobre o sentir.
Mais do que uma omissão, trata-se de uma proposição - um convite a que o público se veja como parte da obra, e não apenas diante dela.
Patricia Brito
Black Brazil Art



É interessante como a supressão de legendas na Bienal busca descolonizar o olhar e estimular a experiência direta; qual foi o impacto percebido desse gesto curatorial na interação do público com a arte na 3ª Bienal Black? Cordialmente <a href="https://jakarta.telkomuniversity.ac.id/en/latest-technology-sends-earthquake-alerts-directly-to-mobile-phones/">Telkom University Jakarta</a>